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Inclusão de pessoas surdas e cegas em festivais de música é mais frequente mas ainda é um processo

A disponibilização de audiodescrição e tradução para Língua Gestual Portuguesa (LGP) em festivais de música começa a acontecer com mais frequência, mas é ainda “um processo” em prol da inclusão.

Patrícia Saiago é audio-descritora, faz “tradução das imagens em palavras”. Nos últimos tempos “tem sido cada vez mais frequente” trabalhar na área cultural, mas, considerou, em declarações à Lusa durante o festival Kalorama, cuja 3.ª edição começou hoje no Parque da Bela Vista, em Lisboa, que estamos ainda “num processo”.

Sara Silva, tradutora de LGP sente o mesmo. “Comecei este ano com outro festival, mas é um trabalho que tem vindo a crescer bastante. Temos notado um grande desenvolvimento na tradução e interpretação nos festivais de verão. Começou a ter maior impacto este ano”, disse à Lusa.

Esta profissional considera que tal tem acontecido por estar “a abrir-se a visão da acessibilidade e o quanto é importante na sociedade incluir”.

“Acabamos por tentar criar essa ponte para que todos consigam ter acesso à comunicação e facilidade de comunicação entre nós”, referiu.

Na 3.ª edição do festival Kalorama, que decorre até sábado, a organização disponibiliza audiodescrição no palco principal e tradução para LGP nos dois maiores palcos.

Para terem acesso à audiodescrição, as pessoas cegas ou amblíopes têm que assistir ao concerto na plataforma destinada a pessoas com mobilidade reduzida, instalada em frente ao palco principal, onde lhes é dado um pequeno aparelho para colocarem nos ouvidos, à semelhança do que é feito, por exemplo, em conferências, em traduções simultâneas.

Patrícia Saiago descreve “tudo o que acontece no palco – figurino, se há coreografia, a forma como a banda está distribuída no palco, como é o palco, o que há em redor do palco”.

“Às vezes o artista faz uma expressão facial, pára a coreografia, encara o público, acena. Sem a tradução, eles perdem este momento, não sabem o que está a acontecer. Traduzimos todo o espetáculo, mas obviamente dando mais importância à música. Eles estão a curtir a música, mas vamos fazendo as inserções necessárias para completar toda a experiencia do festival e da música”, descreveu.

Além disso, os audio-descritores partilham também “informações essenciais para a segurança” de quem os ouve: “onde é a zona de escape, onde há casas de banho, bares”.

Já os tradutores para LGP estão situados em pequenas plataformas ao lado dos palcos. Em frente ao sítio onde estão há uma pequena zona, delimitada por grades, à qual têm acesso pessoas surdas. Neste local, além de poderem acompanhar a tradução, as pessoas conseguem também sentir a vibração do som dos palcos.

“Traduzimos, interpretamos as músicas dos artistas, de maneira a que as pessoas surdas possam ter acesso à parte falada e terem perceção do que está a ser dito na música”, contou Sara Silva.

O ideal para estes profissionais seria conseguirem preparar o trabalho antecipadamente, “mas nem sempre é possível, porque as ‘setlists’ [alinhamento de canções que são interpretadas nos concertos] chegam muito em cima”.

“Muitas vezes o que ouvimos é o que sai”, disse.

Para que este público pudesse ter mais mobilidade, a tradução teria que ser exibida nos ecrãs que ladeiam os palcos, à semelhança do que aconteceu na edição deste ano do Rock in Rio Lisboa.

Mas, como disse Patrícia Saiago, a inclusão de pessoas com deficiência “é um processo” ainda a decorrer a área cultural.

O 3.º MEO Kalorama decorre até domingo. O festival, que conta com mais de 50 atuações musicais distribuídas por quatro palcos, tem hoje como cabeças de cartaz os Massive Attack e Sam Smith.

Os Jungle e os LCD Soundsystem são os cabeças de cartaz na sexta-feira, e Burna Boy e Raye os de sábado.

O cartaz inclui ainda bandas e artistas como Peggy Gou, Loyle Carner, The Kills, Gossip, Ana Lua Caiano, Unsafe Space Garden, Ezra Collective, Glockenwise, Ana Moura, dEUS e Soulwax.

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